quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

RIVANE NEUENSCHWANDER

Natural de Belo Horizonte, MG, Rivane se graduou em Desenho em 1994, na Escola de Belas-Artes da UFMG. Foi artista residente no Royal College of Art, em Londres, de 1996 a 1998, e artista residente no Centro Iaspis, em Estocolmo, Suécia, em 1999. Entre as inúmeras mostras individuais e coletivas de que participou, destacam-se: Salão Nacional de Arte, em Belo Horizonte, em 1989 e 1990; Salão Nacional de Artes Plásticas, no Rio de Janeiro, em 1993; A Infância Perversa, no Museu de Arte Moderna de São Paulo e da Bahia, em 1995; Material Immaterial, na The Arte Gallery of New South Wales, em Sydney, Austrália, em 1997; Bienal de Johanesburgo, África do Sul, em 1997; Bienal Internacional de São Paulo, em 1998; Luminous Mischief, no Yokahama Portside Gallery, em Yokahama, no Japão, 1999; Syndrome: Disappear na International Artist's Studio Program in Sweden, em Estocolmo, na Suécia, em 2000; Trajetória da Luz na Arte Brasileira, no Itaú Cultural, em São Paulo, em 2001. Sobre sua arte, afirma: "Gosto de observar o inobservável". Assim, explica o fato de utilizar como matéria-prima materiais inusitados e pobres - como poeira, sal, pimenta, restos de tomate, bolhas de sabão, lesmas, besouros, formigas, a sujeira carregada por sapatos anônimos... Sendo assim, em suas obras, tudo é aproveitável.
Seu sobrenome longo é herança de um bisavô suíço que se casou com uma mulata carioca no século XIX, a artista mineira Rivane Neuenschwander tem 40 anos e 16 de carreira, movida por questões contemporâneas distantes da identidade verde-amarela, ela participa em média de quatro exposições internacionais por ano. Na ala dos novos, é hoje um dos nomes nacionais de maior evidência no Exterior.
Para uma mostra italiana, por exemplo, a artista está levou uma instalação chamada Globos, um conjunto de bolas esportivas de tamanhos variados, desde as de pibolim até as de basquete, que são distribuídas no chão uma sala, e sobre as quais ela pintou e afixou fitas adesivas, reproduzindo em cada uma a bandeira de um país, pretendendo então questionar a geopolítica mundial, trazia também um lado lúdico e outros tipos de envolvimentos.

No início da carreira, a artista criava objetos a partir de flores ressecadas, bagaços de laranja e cascas de alho, chegando a superfícies e volumes que encantavam pelo engenho e pela fragilidade, demonstrando um lado mais delicado e feminino. “Passei a trabalhar com assuntos mais filosóficos e menos passíveis de uma leitura rasa.” Iniciou então, a fase na qual lida com a linguagem, a cartografia (arte de compor cartas geográficas) e a passagem do tempo, preocupações que coincidem com as várias viagens realizadas. Certo dia, em Estocolmo, Rivane guardou duas lesmas numa caixa forrada com papel arroz, passado algum tempo, o papel estava todo comido, formando verdadeiros mapas-múndi, surgia ali a série Starving letter (carta faminta), de 2000.
Rivane quer se expressar sem o peso opressivo da tradição e agir como catalisador de um fluxo estético, exteriorizando sua temática afim de despertar um novo olhar, fugindo do convencional e quebrando paradigmas. Isto acontece na sua instalação Eu desejo o seu desejo, que é formada por centenas de fitinhas (parecidas com a do Sr. Do Bonfim) mas trazendo inscrições de várias pessoas. Ao retirar uma fitinha da parede, a pessoa coloca no buraco um papel com sua vontade secreta, que mais tarde estará nas fitinhas de outra instalação. Uma idéia simples, lúdica e poética.
Na XXIV Bienal, que ocorreu em 1998, ela mostrou que através de um emaranhado de coisas insignificantes, podemos entrar no real e descobrir que nos matérias do mundo se escondem metáforas de nossas angústias, de nossas certezas e de nossos medos. O trabalho complexo de Rivane é um exemplo lúcido de tudo isso. Numa de suas instalações, Rivane construiu duas habitações idênticas, perfeitamente cúbicas e brancas, com plásticos auto-adesivo, medindo 50x50cm tanto nas suas paredes como no chão, e nestes foram grudados pó e outros restos, como migalhas de
pão, cabelos, pedaços de cebola, felpas dos carpetes... Permitindo então que os espectadores transitem por esses cubículos e arrastem a sujeira dos recintos da Bienal. Isto se da ao objetivo de aliar a geometria da sujeira do espaço com os itinerários ao acaso e os desperdícios dos espectadores de um grande acontecimento cultural. Juntando fragmentos e criando reflexões sobre o “fazer acontecer”, sobre as interferências e as interações entre o pessoal e o político.

Na sua série de pratos de porcelana branca, são combinados elementos orgânicos como asa de vespas, óleo de soja, água ou sementes de tomates secas com matérias industriais, como silicone e plástico, criando assim planisférios nos quais as rotas e territórios são definidos por uma aplicação fragmentada de líquido de diferentes densidades. Desta forma, a obra possibilita níveis de percepção e de ocultação, que são projeções de seus estados anímicos e construções que se oferecem como metáforas para o espectador. Os trabalhos de Rivane podem ter mais de uma interpretação, que se equilibra entre altos e baixos e que oscila entre objetivo e o subjetivo.



Assim como ocorreu na 27ª Bienal de São Paulo, Rivane recebe um convite para mostrar novamente o seu trabalho 28º Bienal, que consiste em máquinas de escrever modificadas, onde as letras são substituídas por pontos, e os números continuam inalterados. Este trabalho tem como idéia central a interação do espectador com a obra. Mesmo sabendo o que estamos escrevendo, a menos que as mensagens sejam “construídas” por números, vírgulas, etc., somos privados da leitura das palavras, o que proporciona vários níveis de comunicação, o que interessantíssimo para a mostra “em vivo contato” desta 28º Bienal.
As maquinas de escrever são colocadas em cabines (módulos individuais) de MDF e espalhados em uma estrutura expositiva e os papéis são oferecidos ao público para serem usados como de um meio de expressão. Os visitantes podem criar mensagens indecifráveis, o que favorece a “leitura coletiva” e, ao mesmo a mensagem para o “individuo”, usando como subterfúgio do desenho a própria elaboração de palavras, sem um começo, meio e fim, porém, com um poder de comunicação direta e reconhecível. Em seguida, os papeis são pregados em um painel de feltro verde, permitindo uma leitura ampla e coletiva, estabelecendo uma narrativa aleatória das mensagens deixadas ao público, aguçando nossas percepções sensoriais.

Em contraposição ao trabalho anterior, Rivane apresenta na mesma Bienal, relógios de Flipar também modificados, estes apresentam números que viram pontos, círculos ou zero. As letras indicando o dia da semana e o mês continuam inalteradas em alguns modelos, e neste caso o tempo não conta, um instante é igual ao outro, tirando idéias impostas ao ser cognitivo, tais como barreiras de tempo, espaço e significados. Os relógios estão espalhados em todo pavilhão da Bienal, bem como nos lugares ligados à mostra, como restaurantes ou hotéis selecionados para hospedar artistas, curadores, etc., estendendo, desse modo, o espaço para além do tempo.
Rivane é assim, versátil, trabalha com materiais simples, trabalha não só o seu, mas os nossos sentidos, interagindo, criando possibilidades, apresentando ao espectador aquilo que os circunda, tornando a questão da linguagem o ponto central de suas obras. Como outras pessoas então envolvidas no processo de elaboração de suas obras, cria-se uma ambigüidade a questão de sua assinatura ou autoria. O próprio público tem grande participação através da afetividade de suas obras. Rivane faz em media quatro exposições por ano, incluído outros paises, isso se da ao seu ótimo trabalho que tem realizado no mundo contemporâneo e, com certeza, é uma das artistas mais reconhecidas em nossos tempos.

Pesquisas:


Bienal
, Fortes Vilaca, Itaú Cultural, reportagem Estadão, UOL



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